A toxicodependência não é uma circunstância de acaso nem uma doença congénita ou contagiosa. Ninguém nasce dependente, nem fica dependente de um dia para o outro. Qualquer dependência tem a sua história própria: começa de forma aparentemente inocente, para depois, à semelhança de uma bola de neve, se desenvolver e crescer, assumindo proporções, por vezes, dramáticas. Quais serão, então, as primícias dessa história? Onde se situam as suas origens? Numerosos são os que tomam drogas, mas apenas uma parte fica dependente: o que significa isso? Porque motivo este indivíduo se torna dependente e aquele outro não? E porquê, justamente , naquela altura? A resposta não é simples.
As diferentes situações causais, as múltiplas experiências e vivências entrecruzam-se, a tal ponto, que as pessoas visadas não vêem outra saída possível senão tornar-se dependentes. De resto, uma única experiência de consumo não conduz, necessariamente, à dependência. Várias circunstâncias têm de estar reunidas para que um comportamento desse tipo se instale.
Embora as drogas, só por si, não constituam um problema (a relação que uma pessoa tem com determinado produto é que decide a maior ou menor frequência com que este vá ser consumido), o simples facto de existirem e produzirem um determinado tipo de sensações vai ser determinante para o risco da dependência. Caso contrário, como explicar o fenómeno tabágico e o enorme consumo de toda a espécie de bebidas alcoólicas? Os discos e os clips psicadélicos de música ensurdecedora? A pornografia sexual e a devassidão? A exaltação da velocidade, o culto da violência? Ou ainda a obsessão pela heroína ou o haxixe e toda a espécie de alucinogénios e estimulantes?
E contudo, o problema não está nas drogas, nem nos comportamentos extremistas ou devassos. Na evolução de uma toxicodependência é preciso, antes de mais, centrarmo-nos na pessoa e nas suas necessidades. Estas são determinadas por situações de conflito, na maioria dos casos inconscientes. Por detrás de cada dependência esconde-se uma vivência que, sem os estupefacientes ou a adopção de determinados comportamentos, é sentida como “impossível de aguentar”. Não pode ser definida em função da quantidade de droga utilizada ou da adopção de um determinado comportamento, mas antes como uma tentativa, frustrada é certo, para a libertação de dificuldades pessoais. Trata-se de uma espécie de automedicação, um falso remédio, que consiste em querer resolver os problemas pela via mais fácil. Ora, quanto mais recalcados são os problemas pessoais, maior é a tendência para os dissimular e, portanto, mais gravosas as consequências para a saúde psíquica.
Bibliografia:
Andrade, Maria Isabel; (1994). Saúde; A Face Oculta das Drogas.
Fonte da imagem: http://www.deviantart.com/
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