Como se instala...

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009


Todo o ser humano tem preocupações e deseja ser capaz de as vencer. E cada um tem a sua maneira pessoal de as defrontar, adiando, de boa vontade, os conflitos quando as soluções para eles não são imediatas. É muito natural que assim aconteça. Tais comportamentos renovam-se e não lhes prestamos atenção: um cigarro para descontrair, uma cerveja para esquecer o quotidiano, um pedaço de chocolate para amenizar as contrariedades... Em situações correntes não passam de atitudes banais que permitem um certo distanciamento dos problemas que nos atingem.
São inúmeras as situações em que fazemos qualquer coisa que não queríamos fazer. Comemos sem ter fome, bebemos para além da sede, compramos roupa sem necessidade, passamos serões submetidos à arbitrariedade dos programas televisivos. Não vem à cabeça de ninguém descrever estes comportamentos como fenómenos de dependência. Mas, se surgem com regularidade, se são adoptados para fugir aos conflitos, aí a situação pode transformar-se num hábito pernicioso e atingir a área de risco dos comportamentos de dependência. Na nossa época, ela transformou-se num fenómeno de massas, que se encontra associado, não apenas aos produtos, as também às actividades. Eis algumas situações de risco:

TRABALHO – é reconfortante uma pessoa sentir-se realizada com a sua profissão. Mas se a prolonga durante os fins-de-semana e pela noite dentro... e se esquece os outros lados bons da vida...



MÚSICA – onde houver música, muitos concertos e o ipod, claro, as sensações são estupendas! Mas quando se é incapaz de suportar a calma e se anda com a música matraquear por todo o lado...



CONSUMO – Quando a pessoa, a propósito de tudo e de nada, faz compras desnecessárias e esses objectos se empilham em casa, enchendo caixas e prateleiras...



LIMPEZAS - Muitas donas de casa são de um asseio irrepreensível, muitos homens gostam do seu carro tão limpo que nele nos vemos ao espelho. Muito bem! Mas, se cada coisa tem de estar, impreterivelmente, no seu lugar, se cada grão de poeira tem de desaparecer diariamente e se estas exigências são mais fortes que tudo o resto...



ALIMENTAÇÃO – Comer faz parte da vida, estamos todos de acordo. Mas se uma pessoa se sente irresistivelmente atraída pela comida e todos os seus pensamentos giram em torno do que come...



JOGO - Há quem goste de jogar e se divirta imenso com isso. Óptimo! Mas, frequentemente, se joga a dinheiro, a “bolsa” e o orçamento familiar ressentem-se e, apesar disso, o hábito permanece...



TELEVISÃO – Quem é que nunca experimentou fazer zapping? Mas quando não escapa um episódio da telenovela, um jogo de futebol ou, muito simplesmente, fica a olhar para o pequeno écran. Mesmo que o progrma não interesse...



CUIDADO! ESTAS ACTIVIDADES TAMBÉM FUNCIONAM COMO “DROGA”!

O mecanismo da toxicodependência assemelha-se muito ao que se passa com as pessoas que são escravas da sua televisão, do seu carro, do seu trabalho ou de um desporto. Poderíamos, neste caso, falar de drogas em sentido lato, já que todas têm a mesma finalidade: recalcar os sentimentos desagradáveis o os estados de forte tensão psíquica. Quando se é dependente, já não é de prazer que se trata, mas de uma necessidade imperiosa. Cada dependência tem as suas particularidades e cada uma comporta os seus riscos. Mas todas as pessoas dependentes têm em comum a sua vulnerabilidade e o facto de estarem privadas de uma parte da sua liberdade. Chegam a não se aperceber que a fuga aos problemas acaba por arruinar, a pouco e pouco, o seu psiquismo. A sua vontade própria já não consegue orientar-se nem determinar-se livremente. Algo as empurra para o exercício de determinada actividade ou para o consumo de determinado produto.
Evidentemente, as consequências são muito mais graves para um toxicodependente ou um alcoólico do que para o aficionado de televisão ou o jovem que nunca abandona o seu ipod. E, contudo, se as consequências são diferentes, o comportamento subjacente é semelhante. Não conseguem viver nem libertar-se de determinado hábito, o qual funciona como meio para evitar o confronto com a realidade quotidiana e os conflitos existentes.

Bibliografia:
Andrade, Maria Isabel; (1994). Saúde; A Face Oculta das Drogas.

Fonte das imagens: http://www.deviantart.com/

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