A toxicodependência é uma forma particular de dependência que nada tem a ver com as necessidades vitais (comer, beber, respirar, dormir, movimentar-se). Quer se trate da heroína, do tabaco, do haxixe, do álcool ou de um tranquilizante, é uma verdadeira escravatura. Segundo A. Porot, trata-se da “apetência anormal e prolongada que certos indivíduos manifestam pelas drogas, das quais (acidental ou voluntariamente) procuraram o efeito analgésico, euforizante ou estimulante, apetência que, rapidamente, se transforma num habito perverso e que, quase inevitavelmente, vai desencadear o aumento das doses”.
Pode ser-se dependente de uma droga de duas maneiras: psíquica e fisicamente. A dependência psíquica manifesta-se quando não se pode imaginar a vida sem droga. Na dependência física, a droga já se encontra de tal maneira introduzida nas funções orgânicas que, ao ser suprimida, provoca dores irreprimíveis, designadas por “sindrome da abstinência”. Estas perturbações desaparecem quando se retoma a droga. Daí resulta um círculo vicioso que só pode ser quebrado com o indispensável apoio clínico-terapêutico.
A maior parte das drogas proporciona um certo bem-estar mas não resolve problemas. Além de conduzir à dependência, o consumo abusivo provoca danos corporais, psíquicos e sociais; na gravidez é particularmente nocivo para o feto. Tais consequências manifestam-se, por vezes, tardiamente, quando já não é possível uma terapêutica eficaz (sida, overdose).
Danos Corporais
Numerosas drogas causam mazelas ao organismo como, por exemplo, às vias respiratórias, à circulação sanguínea, às funções cerebrais e ainda a muitos outros órgãos internos, sobretudo ao sistema nervoso central.
Vejamos o que se passa com o sistema nervoso: todas as drogas agem sobre os neurónios, as células do nosso sistema nervoso. Um neurónio é constituído por vários prolongamentos ou “dendrites” e um prolongamento maior, o “axónio”, que comunica com as dendrites de um outro neurónio. Assim, os neurónios constituem “redes” que transmitem todas as nossas sensações, como uma corrente eléctrica, ate ao cérebro. Agindo sobre os neurónios, as drogas modificam as sensações através das quais nos captamos a realidade. Dois neurónios nunca se tocam. Existe um espaço minúsculo, a “sinapse”, entre a extremidade das suas ramificações. Quando uma informação, por exemplo, uma sensação de dor, chega ao extremo de um axónio, são libertadas determinadas substancias químicas que se espalham na sinapse e transmitem a informação. É o caso das “endorfinas”, que acalmam a dor. Estas substâncias químicas vão agir sob o neurónio seguinte, ligando-se em moléculas especiais, os “receptores”, um pouco como uma chave numa fechadura.
Se praticarmos um desporto de resistência, como o atletismo ou o futebol, com certeza tivemos esta sensação: no início da corrida doem-nos as pernas e as coxas. Depois, progressivamente, os músculos vão-se tornando mais flexíveis. O esforço torna-se cada vez menos doloroso, ate ao momento em que deixamos de sentir seja o que for.
Passamos a ter a agradável impressão de poder correr uma eternidade. As endorfinas entraram em acção para impedir a dor. O nosso organismo segrega endorfinas permanentemente: em maior quantidade, quando efectuamos um esforço, ou em doses menos elevadas, na vida de todos os dias, quando permanecemos sentados ou quando nos apoiamos num objecto.
Sem as endorfinas, a nossa vida seria um calvário. Ao mínimo bocejo, ao mais pequeno movimento, a dor física seria terrível.
Frequentemente, as drogas agem com uma função semelhante à destas substâncias químicas que circulam entre dois neurónios. Ao alojar-se nos receptores da endorfina, funcionam como chaves falsas introduzidas numa fechadura. Sob o seu efeito, os receptores perdem a actividade e, por consequência, tornam-se menos eficazes. Progressivamente a droga vai deixando de produzir os mesmos efeitos sobre o toxicodependente. Para obter as mesmas sensações, um toxicómano tem que aumentar constantemente as doses.
Danos Psíquicos
Também o psiquismos do toxicodependente é posto em perigo e prejudicado pelas drogas.
A dependência pode desencadear alteração em certas faculdades intelectuais (concentração, memória, atenção) e reforçar determinadas tendências psicopatológicas (perda de contacto com a realidade), sobretudo nas pessoas que consomem regularmente uma droga em doses elevadas. Recusando-se a analisar os seus problemas e a descobrir-lhes as causas, incapazes de enfrentar as situações de conflito, tornam-se cada vez menos activos no desenrolar do seu quotidiano. Perdem o sentimento da autoconfiança e da dignidade pessoal. Sentem-se impotentes, à mercê dos acontecimentos. Envergonham-se da sua dependência, dos seus problemas por resolver.
As repercussões fazem-se igualmente sentir nas relações interpessoais. Fecham-se sobre si mesmos e perdem o gosto em manter relações. Parcos de calor humano e de estímulos, isolam-se e “agarram-se” às drogas ou a outras actividades de dependência. Cria-se então, um autêntico círculo vicioso!
Quando uma pessoa toma droga, tem sensações diferentes, mas não por muito tempo. Se quer reencontrar a mesma sensação é preciso repetir a dose. E é assim que surge a dependência. Ser dependente significa:
• Não poder viver sem droga e sentir-se doente quando a mesma falta.
• Não pensar noutra coisa que não seja o produto.
• Procurar na droga o refúgio para todos os problemas, enquanto a saúde se vai degradando.
• A indiferença por tudo o que não seja a droga: os amigos, os passatempos, a escola ou o trabalho.
Bibliografia:
Andrade, Maria Isabel; (1994). Saúde; A Face Oculta das Drogas.
Fonte da imagem: http://www.deviantart.com/
http://www.google.com/
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